Em meados de 2017, passei por uma fase de transição muito marcante. E, dessa vez, quero ser objetivo. Sem maiores alusões ou referências poéticas. Fase marcante. Ponto.
Conheci pessoas & pessoas, coadjuvantes e figurantes (e até protagonistas). Uma delas, coadjuvante, uma vez, me mostrou um caderno que ela guardava com inúmeras coisas. Eu sempre fui muito materialista, mas em algum momento da adolescência, eu percebi que ter um "diário" soava infantil demais. Talvez por isso que, na falta de um, hoje eu tenha um blog.
Daí conheci outras pessoas. Dessa vez figurantes. E vi que, por coincidência ou razões esotéricas (estou amando essa palavra ultimamente), muitas delas possuíam diário, ou caderneta, ou agenda, ou planner, etc etc. Daí eu resolvi que deveria ter um também.
Fui até a papelaria que havia perto da minha antiga república universitária e comprei um pequeno caderno com estampa de patins e fundo azul marinho. Quatro e Cinquenta, se não me engano. Paguei em moedas.
Cheguei em casa, num dia atípico onde minha tarde foi livre, me sentei no colchão no chão no meu quarto (a cama estava quebrada) e olhei pro caderno. Ok, agora faço parte da sociedade secreta do clube da caderneta, pensei. Mas me indaguei com respectivas questões: Cadê minhas inspirações metafóricas? Cadê a vontade de escrever poesias? Se eu for desenhar, o que eu vou desenhar? Qual o contexto? Com que finalidade? (Jovens adultos racionalizando coisas soa patético).
E deixei por dias aquele pequeno caderno encostado entre minhas bitucas e problemas naquele quarto de oito metros quadrados.
Outro dia, aleatoriamente, estava eu vivendo uma "bad" melodramática no arco fúnebre da existência e referências poéticas da juventude, e pensei: É chegada a hora. Acendi um famigerado cigarro e fui escrever uma carta para o "eu" do futuro.
Com frases toscas e ensinamentos medíocres, a carta possuía um cunho moral e "aproveite os bons momentos, eles passam". Carpe Diem. Arcadismo essas horas?
Na hora eu quase apaguei o cigarro na carta. Eu ainda dei o nome da carta de "A carta que deveria ter sido escrita com ketchup" e que baita coisa tosca é esse nome. Por mais que tenha uma razão, o nome é muito cafona. Advém da história de um protagonista.
Meses depois eu abri o caderno em outro contexto e encontrei:
"Querido eu do futuro.."
E fui ler.
Ali sim percebi como as coisas são efêmeras. Foram pouco mais de cinco meses depois e eu já não sentia absolutamente nada do que estava escrito na carta. E isso não é papo de eu lírico não, é a mais pura das verdades.
No fim das contas, criei o hábito de escrever cartas para eu ler no futuro. Com o tempo e muitas mudanças de casa, eu perdi o caderno de estampa de patins. Mas o hábito permanece. Seja num bloco de notas, seja num blog anônimo.
Qualquer hora eu faça isso aqui, quem sabe. Por enquanto, sigo dando atenção para coadjuvantes e figurantes.
p.s: O nome "Chanson D'Amour" pertence a uma música que, pra mim, combina com este texto. Nesse momento estou escrevendo do meu trabalho, onde foi palco (literalmente) da minha primeira peça de teatro. A música que sinalizava o fim da peça era essa, e hoje, acidentalmente, estou nostálgico.
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