Hoje eu tive um pesadelo.
Hoje eu tive um pesadelo e não posso acreditar em tamanho descaso de meu inconsciente em deixar que o meu organismo apenas estivesse tentando me acordar pelo mau jeito de dormir ou a falta de oxigenação no cérebro.
Hoje eu tive um pesadelo e, nessa pesadelo, o cenário eu conhecia. Era vermelho, igual aos rios de sangue do inferno de Dante. Entre o primeiro ciclo de sono e o segundo, eu “pesadelei” (visto que pesadelo é antônimo de sonho, do verbo "sonhar") com alguém de quem eu nem lembrava mais. Com uma pessoa que passou e foi embora. Pessoa que passou. Nada de caso pensado, pois eu sequer lembro de ter citado o nome do mesmo na tarde de ontem, enquanto reforçava a camada de gordura visceral de meu fígado com álcool barato. No sonho o contexto era sexual. Não de um jeito feliz como os contos eróticos promovem ser. Aliás, deixo aqui todo o questionamento da semântica da frase “eu sonhei sobre sexo com este alguém” e faço meus questionamentos totalmente desligados das regras gramaticais. Talvez, os rios de sangue do inferno tenham acordado Incubus e este tenha prestado atenção em minha vulnerabilidade insustentável durante a madrugada de pré-domingo. Afinal, domingo é o dia que o Criador descansou, e o demônio quis testar minha sanidade na ressaca do álcool reparador de rejunte hepático. Boa tentativa, Incubus, este não foi possível de me acordar. Eu já nem lembro mais dele.
Hoje eu tive um pesadelo, e nele, entre o segundo e o terceiro ciclo de sono, me veio como enredo a minha família. Já que o primeiro ciclo não havia feito diferença alguma, eles, dessa vez, apelaram. Era sobre Laura, a minha afilhada. Foi eu que a segurei no colo enquanto o padre jogava água benta sobre seu orí quando era recém-nascida. No sonho, alguma crueldade. Na vida real, apenas mais esse deglute de cristianismo de tom estuprador, onde ela não teve escolha sobre ser batizada, afinal a mesma ainda não identificava a diferença entre o dedo da mãe e o bico do peito. Aqui eu acordei. Virei pro lado. Deve ser o lanche que eu comi afogando as mágoas ontem, pensei, indigesto. Tomei água, reforcei o ar condicionado e garanti que a televisão continuasse ligada naquela canal gratuito que só passa promoções de joias na madrugada. Tudo certo. Vamos ao próximo ciclo.
Entre o terceiro e quarto sono, hoje eu tive um pesadelo. Este era de tom profissional, se não fosse minha mera insignificância errante ao mesclar vida pessoal x profissional. Eu estava em um evento. Desses que eu promovo em parceria com a repartição pública na qual faço oito horas por dia e paga minhas contas todo fim de mês. O evento poderia ser um sonho, visto que estava organizado, não fosse pela aparição de Sarah nele. Ela possuía um aspecto estranho. E dela eu comentei ontem. Ontem, anteontem, e antes de anteontem. Mês passado. Ano passado. E em meados de 2023, quando tomei nota da minha dor e reparti isso com este blog mofado. Ela ria e eu tentava pedir para que o tom da conversa não fosse risonho. Eu precisava ouví-la e ela precisava falar. Esta é uma que vive sempre nos nove círculos de Dante. Me comuniquei de maneira errônea e logo minha mãe, coadjuvante no sonho, não deixou que eu me aproximasse dela. Sim, aos vinte e cinco anos minha mãe ainda decide com quem eu devo ou não andar. Nem sempre atendo seu pedido, assumo, porém no sonho eu bati o pé. Agora, perto do meio dia de domingo, eu já não lembro o que conversamos. Afinal, ela sempre me visita em pesadelos. Mais do que na vida real. Mas como eu disse anteriormente, esse assunto já foi pauta deste eu-lírico. E por volta do meio dia eu me encontro na boemia de escrever este texto sobre pesadelos tendo me dopado de Venlax, Alprazolam, Cafeína e Nicotina. Que baita de um hipócrita eu sou. Os demônios da madrugada aqui me acordaram novamente, e agora tenho sequelas de pensamento, mas acho que foi tempo de abrir o celular e ver a timeline de alguma rede social.
Hoje eu tive um pesadelo, e depois de ter sonhado com o meu ex do passado, com a minha afilhada, meu trabalho e minha amiga Sarah, não havia mais nada de que meu inconsciente podia criar. Um último suspiro de horror, receio. Era uma festa. E eu estava lá embalado de bebida e de outras substâncias. Houve um tiro. Ninguém sabia da onde vinha e quem era a vítima. Este foi o enredo. Eu procurando desnorteadamente quem havia sido baleado. No fim, não encontrei, mas esse pesadelo tem explicação nas muitas informações que recebo diariamente de crimes não ficcionais em qualquer lugar midiático. Também não me assustou o suficiente. Mas acordei, agora definitivamente.
Hoje eu tive um pesadelo, mas na noite anterior eu tive um sonho prazeroso demais. Fui dormir na ânsia carnal de um deleite sexual e não experimental. Cômodo mesmo. O mais do mesmo. E quando sonhei, o rapaz que estava comigo era alguém com quem já me envolvi anteriormente. Neste blog não atribuímos juízo de valor a nada. O “palavras bonitas” é um paradoxo, pois eu posso dizer todas as palavras mais esdrúxulas e podres que combinadas em frases pode soar como algo poético. Só não vão me ver escrevendo a palavra “garfo” que é a que eu mais odeio da língua portuguesa. Aliás, por sinal, é a minha favorita. Um sonho quente, cheio de envolvimento carnal e febriculoso.
Hoje eu tive um pesadelo, mas ontem, quem teve foi o marido da minha mãe, que “pesadelou” sobre levar um choque e acordou a casa toda.
Hoje eu tive um pesadelo e espero que todos os ciclos do inferno de Dante tenham se encerrado enquanto eu dormia.
Hoje eu tive um pesadelo, mas hoje também, quero encontrar os meus cristais Ônix, que dizem as bruxas que afastam pesadelos. Eu nunca mais tomei Trazodona, por exemplo.
Hoje eu tive um pesadelo e espero que na próxima noite eu não tenha.
Hoje eu tive um pesadelo, mas.. eu sempre tenho.
Eu amei! A tempos não tenho pesadelos, espero não ter por sua culpa hahah!
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