eu tenho um problema sério com Domingos. tentei, por algumas vezes, tentar diagnosticar a raiz do problema. pensei que poderia ser traumas da infância (e mais uma vez os terapeutas estavam me regendo) pelas lendas urbanas passadas nos programas de auditório que era comumente apresentadas e reprisadas aos domingos, e eu, criança medrosa porém curiosa, adorava a adrenalina de assistir aquelas atuações horríveis e CGI de photoscape dos anos 2000, mas tinha que dormir de luz acesa do domingo à sexta-feira, que era quando o medo começava a esvair no meu pensamento. daí vinha o sábado e logo em seguida o domingo, e o ciclo se repetia.
assumo sem culpa que meu ódio ao domingo me impulsiona criativamente. de fato os momentos frágeis é onde este eu lírico se torna mais agraciado pela latência de seu ofício, porém será que vale a pena?
o meu blog, os meus blocos de nota, são repletos de um retrato singular de uma pessoa caricata e melodramática, e essa minha skin confronta tudo o que eu tento passar, ou seja: de mocinho à vilão.
talvez eu lembre das repetidas vezes que minha catequista me disse que Deus descansou no sétimo dia. ou eu lembre de vestir minha melhores roupas, a pedido da minha mãe, para acordar cedo aos domingos e ir à missa, que inclusive era na frente de casa.
talvez sejam as ressacas. ah, as ressacas. foram muitos lençóis manchados e vergonhas escondidas entre edredons e sais de fruta. algumas das burrices que mais me arrependo, a culpa só veio no domingo, pois no sábado havia todo o êxtase do córtex pré-frontal. mas eu vou culpar o ingênuo sábado por me despertar a persona extrovertida e baladeira? jamais.
o sábado foi o expoente para eu viver as desgraças mais prazeirosas que eu já vivi (e as mais desastrosas também). a culpa sempre foi o domingo.
talvez seja por que ele antecede a segunda-feira, injustiçada, só por retomar o ciclo da semana, onde você já se prepara para todos os esporros do seu chefe e para todos os “estou cansado” que a voz da sua cabeça irá repetir entusiasmadamente. é, na verdade, a culpa é do capitalismo, mas como está datado culpabilizar o mesmo, eu prefiro deixar de esmiuçar.
talvez seja pelo retrato de memória da infância, quando meu avô ia pescar e eu e minha avó decidíamos passar o domingo com a minha madrinha Lourdes em sua casa abraçadora. seria uma memória boa, se minha madrinha não tivesse partido. de uma forma tão, mas tão solitária.
e por coincidência, foi num domingo que eu soube da sua morte. logo após uma noite de pílulas e álcool, onde meu pai, nada sucinto, às 08h da manhã me pergunta com frieza “Gui tá sabendo que sua madrinha morreu?”. é, agora acabou a retomada de intimidade que eu me propus. acabou o acolhimento daquela pobre criança viada que pintava as unhas no salão de beleza da madrinha e depois tirava para que não houvesse problemas em casa (leia-se: homofobia). acabou as pizzas congeladas duplamente recheadas e o DVD da Ivete Sangalo no Maracanã no volume mais baixo (por que meu padrinho era insuportável). Lembro de passar o dia todo no quarto com minha avó entre soluços e choros, ouvindo aquela do Ivo Pessoa e me lembrando dela. ah “madri” que saudade.
mas talvez tudo isso seja apenas eu querendo meter referência goela abaixo, ou tentar romantizar a tristeza de uma forma escrota e zero sensível, e seja só culpa da música do Marcos e Belutti “domingo de manhã” (aquela bomba).
a verdade é que eu gostaria que todo domingo fosse como o sábado. mesmo eu sabendo que erraria duas vezes numa só semana.
p.s: que bom seria se fosse apenas duas vezes por semana.
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